Desencontros


A primeira vez que meus olhos encontraram com os olhos de Luke eu estava sentada em um banco de praça. Estava aqui, no Canadá, ignorando todos os conselhos da minha família de investir em uma carreira mais segura.
Fotografas não era apenas uma profissão, era meu jeito de mostrar o que eu sentia. Cada clique era como se eu estivesse exorcizando algum demonio da minha alma. Era maior do que eu, não cabia em palavras.
Eu assistia a luz do sol bater contra os flocos de neve que caíam sobre os finos galhos das árvores, até que uma figura alta e desajeitada senta ao meu lado, e tenta - á toa - acender um cigarro.
Olho ao meu redor. Há cerca de 7 bancos vazios. Suspiro e levanto minha camera, apontando para qualquer lugar em busca de uma imagem inspiradora. Miro a camera e segundos antes da lente capturar a imagem, a figura ao meu lado levanta-se e se coloca na frente da lente, fazendo com que minha foto seja de um sorriso borrado.
- Com licença? - Eu digo, claramente incomodada.
- Oi!
- Oi?
- Tem gelo no seu café - Ele diz, rindo.
Olho para meu copo. As bordas cobertas com uma fina camada de gelo, e o liquido com a superfície congelada. Fotografo a figura e meu copo de café, rindo da situação, e então a figura começa a conversar comigo.
Em meia hora, eu já sabia que a figura se chamava Luke, tinha 22 anos e morava na mesma rua que eu. Canadense de sangue, fumante desde os 17 anos, preguiçoso e músico. Trocamos telefonemas, emails, e ele me chamou pra sair. Saímos, bebemos, rimos e beijamos. Essas saídas duraram em torno de um mês e meio, que foi quando ele me pediu em namoro. Eu estava feliz, realizada e apaixonada, perdidamente apaixonada.
No sétimo mês de namoro, aconteceu de eu ter que vir pro Brasil assinar uns documentos. Me despedi, em lágrimas. Luke disse que ele estaria lá, quando eu voltasse.
Fiquei um fim de semana em São Paulo, e logo voltei pro Canadá. Não avisei Luke, pois queria fazer uma surpresa pra ele.
Desci na estação de trem, e fui andando pra casa. Estava na esquina, quando avistei a casa de Luke. Apressei o passo, estava na frente da casa dele, quando ele saiu. De mãos dadas com outra.
A mulher, devia ter uns 5 anos a mais que eu, tinha cabelos lisos, platinados e compridos. Usava uma camiseta de Luke que eu costumava usar.
Parei. Fiquei parada olhando pra Luke enquanto as lágrimas caíam. Ele me viu, e ela me viu também. Na hora que ela me viu, ela apertou ainda mais a mão dele. E ele não soltou. Estavam lá, rindo de mim e me olhando com os dedos entrelaçados, íntimos.
Cai de joelhos, enquanto sentia minha alma escorrer pelos olhos. Ela virou, e foi pra dentro da casa de Luke, e ele a seguiu, ainda de mãos dadas.
Eu morri mais ainda. Doía tanto. Eu chorava, e me batia, e me xingava internamente. Eu gritava, e chorava mais ainda. Muitas pessoas foram me ajudar, mas não adiantava, pois a única pessoa que eu precisava estava lá dentro, beijando a boca de outra pessoa. Outra pessoa segurava meu mundo nas mãos enquanto eu morria.
Me levantei, com dificuldade, e corri pra minha casa, com todo o folego que eu tinha.
Muitas coisas se passaram desde aquele dia, muita história aconteceu. Tive novos relacionamentos, ele também. Adoeci, melhorei, adoeci de novo, melhorei de novo. Ri, chorei. Foram dez anos passados. Dez anos que eu conheci pessoas melhores - e piores! Fiz sexo, comprei um carro, vendi, comprei outro. Mas não amei mais ninguém. Pois eu vivia apenas com meu corpo. Minha alma estava morta.
Minha alma, estava sepultada naquela rua a mais de dez anos, esperando que Luke, e seus olhos cor de mel a ressuscitem.


HISTORIA ORIGINAL.

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